Há quem exerça o ofício da escrita navegando ao encontro de muitos, por terras estrangeiras ou, solitariamente, em algum quarto de hotel. Alguns também seguem este caminho em bibliotecas alexandrinas, mosteiros, universidades ou montanhas distantes. Nosso autor, um médico voluntário, de olho no padre e outro na missa, leva a alma a passear sobre a história das ideias e os acontecimentos do dia: “Em geral, vou em companhia dos pensadores e de suas ideias , ensimesmado, por locais mais simplórios, anticlássicos como favelas, viadutos, ônibus, mangues, quitandas e as quatro paredes de um posto de saúde.” Há vinte e cinco anos atendendo seus pacientes , em uma comunidade na periferia do Rio de Janeiro e , perplexo, já que Asclépio e sua geração não possuem terapêutica para todos os problemas que encontra, resolve trazer para seu próprio esclarecimento, os autores da tradição filosófica , literária e científica, desde Aristóteles à Wittgenstein, de Catulo à Baudelaire, de Cícero à Schopenhauer, de Empédocles a J.L. Borges, de Duns Scott à Pascal, de Santo Agostinho à Heidegger: ”Recuperando a reflexão de antigos pensadores , compartilho com eles os enigmas, as vivências trazidas pelos pacientes - tarefa para muitos ... Com o testemunho de quem chega para a consulta , reavalio a opinião dos clássicos . Trazendo- os para a Ilha, em diálogo com a realidade dos pacientes, ouço o que se conversa e percebo como se ilumina a senda e por onde caminha a humanidade...”Face a face com seus pacientes, em seu cotidiano ,em suas complexas questões na periferia brasileira, recupera as teses dos pensadores, que na tradição ocidental são discutidas no ambiente acadêmico e as atualiza em sua universalidade, submetendo-as a um teste de realidade. De forma original, bem humorada e criativa são chamados para um diálogo aberto, a partir do núcleo duro de suas teses e confrontados com as vivências dos pacientes de uma comunidade do Rio de Janeiro.